Para a Carmo























Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
percorrer correndo os corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
O labirinto de labirintos
Dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas,
as sete moradas
na sala receber o beijo frio em minha boca
Beijo de uma deusa morta Deus morto,
fêmea de língua gelada
Língua gelada como nada
Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas pra que entrem todos os insectos

(Letra: Janelas Abertas nº2 de Chico Buarque/ Fotografia: David La Chapelle)